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‘Desafio é unir plano de desenvolvimento com atra??o de IED’, diz Stephania Mageste Investimento estrangeiro Valor Econ?mico.txt
Mageste: a atua??o da ApexBrasil é ainda mais importante neste momento de tens?es geopolíticas e macroecon?micas — Foto: Divulga??o Se um país tem acesso fácil a fontes renováveis de energia e matérias-primas cruciais da economia do éunirplanodedesenvolvimentocomatra??odeIEDdizStephaniaMagesteInvestimentoestrangeiroValorEcon?marco legal dos jogosséculo XXI, por que n?o investir em dominar toda a cadeia de valor? Essa é a pergunta que está colocada atualmente para países como o Brasil, de acordo com a economista Stephania Mageste, oficial associada de assuntos econ?micos da Divis?o de Desenvolvimento Produtivo e Empresarial da Comiss?o Econ?mica para a América Latina e o Caribe das Na??es Unidas (Cepal/ONU). Em setembro, a Cepal lan?ou o estudo “O Investimento Estrangeiro Direto na América Latina e no Caribe (2024)”. Na vis?o da entidade, o sucesso de uma política de atra??o de investimento produtivo se mede pela capacidade de integrar e se articular com a política geral de desenvolvimento de um país. Concentrar o foco nos setores onde a economia tem mais potencial costuma ser uma estratégia vencedora, acrescenta Mageste. Nesse sentido, a atua??o de agências de atra??o é importante para identificar e orientar as empresas de outros países que podem trazer capitais e tecnologias necessários ao avan?o desses setores - e se torna ainda mais relevante no atual cenário de tens?es geopolíticas e macroecon?micas, com um “descolamento” entre as maiores economias do mundo, EUA e China. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({ mode: 'organic-thumbs-feed-01-stream', container: 'taboola-mid-article-saiba-mais', placement: 'Mid Article Saiba Mais', target_type: 'mix' }); Valor: Embora o Brasil seja um dos países que mais recebem investimento estrangeiro direto no mundo, no ano passado houve uma queda tanto em escala nacional quanto global. é preocupante? Stephania Mageste: O IED é um bom indicador de interesse no país ou da sua credibilidade. Mas os números n?o podem ser analisados isoladamente. O Brasil teve uma queda no ano passado, mas 2022 apresentou um crescimento enorme. Apesar do cenário global, os dados brasileiros s?o positivos. No ano passado, houve queda em praticamente todos os países. Há claramente uma tendência mundial de retra??o nos fluxos de IED. A principal raz?o, creio, é a instabilidade das taxas de juros, que deixa as empresas em compasso de espera. A China, inclusive, anunciou mudan?as importantes de política macroecon?mica. Investimentos estrangeiros diretos s?o de longo prazo, n?o s?o como as especula??es na bolsa de valores. As empresas est?o um pouco mais cautelosas, querendo entender o que está acontecendo. Há conflitos e guerras, bastante instabilidade política, e isso afeta as decis?es desse tipo. Principalmente quando atinge o pre?o das commodities. Valor: De que maneira um país como o Brasil pode lidar com os atritos entre a China e os EUA? Mageste: Apesar de a origem do capital estar em um país ou outro, quem investe mesmo s?o as empresas. Ent?o deve ser feito um trabalho diretamente com elas. Tudo que puder ser feito para facilitar o intercambio e o investimento vale a pena. Por exemplo, as agências de atra??o, como a ApexBrasil, s?o um instrumento importante de diplomacia comercial. é importante que ela vá ao encontro de empresas, mostrando que compensa investir no Brasil. Valor: O que determina o investimento estrangeiro em um país como o Brasil? Mageste: Na teoria de atra??o de IED, os condicionantes macroecon?micos, a estabilidade política e o estado de direito s?o muito importantes. Mas o mais determinante é que, quando uma empresa expande sua capacidade produtiva em um país como o Brasil, é sinal de que realmente acredita que vai ter demanda para seu produto. é por isso que o Brasil e o México s?o os países que mais recebem IED no continente. Os dois têm mercado interno muito importante. Essa entrada de capitais mostra que as empresas est?o confiantes de que as pessoas v?o comprar seus produtos ou que de lá v?o conseguir exportá-los. Outro fator importante s?o as políticas públicas específicas para esse fim. é preciso identificar os setores que fazem mais sentido para os objetivos postos” Valor: Em que sentido? Mageste: No caso do Brasil, penso, por exemplo, em programas como o Nova Indústria Brasil. A quest?o é como atrelar um plano de desenvolvimento econ?mico - no caso, industrial - a uma política de atra??o de IED. Algo que, me parece, a ApexBrasil procura fazer. O objetivo é casar os setores prioritários da política de atra??o de investimentos com os setores prioritários do desenvolvimento econ?mico. De fato, n?o se consegue atrair investimentos, digamos, em telecomunica??es se n?o for um setor que recebe incentivos, como capacita??o de m?o de obra e outros. Hoje, aliás, o Brasil recebe investimentos diretos principalmente nos setores estratégicos de produ??o energética. O IED está muito relacionado à energia renovável, mas também à n?o renovável, sobretudo o petróleo. Isso ajuda a explicar por que o Brasil tem tido um bom desempenho no panorama global. Valor: Os investimentos podem ser uma chave para a transi??o econ?mica sustentável, um dos principais pontos da política de industrializa??o anunciada? Mageste: Sim, essa é uma quest?o central que está colocada. E n?o só no Brasil. Vou usar o exemplo do Chile, que tem uma situa??o parecida. O Chile tem uma costa gigantesca, com muito vento e muito sol, além da altitude. é um país predestinado para a gera??o de energias renováveis, como o Brasil. Ent?o muitos investidores estrangeiros, boa parte deles chineses, mas também muitos espanhóis, compraram enormes quantidades de terra para construir parques eólicos ou campos gigantescos de painéis solares. E o governo chileno está se perguntando exatamente isso: por que ser só o lugar onde a energia é gerada? Por que n?o construir o painel e participar de toda a cadeia de valor? é um país com bastante lítio, cobre, níquel, e que investe muito em minera??o. Aliás, esse é o setor que mais atrai capital estrangeiro. Valor: A oportunidade está colocada, mas n?o é evidente como ela pode ser aproveitada. Mageste: Sem dúvida. A transi??o energética n?o significa só tirar os carros a gasolina e colocar elétricos. Há toda uma cadeia de valor a ser criada: a produ??o da bateria, a eletrifica??o de setores industriais. Tudo isso envolve engenheiros, operários qualificados, pessoas que conhecem essas tecnologias. Em cada etapa há desafios. No caso do lítio, o Brasil também tem recebido capital para extra??o em Minas Gerais. Mas o refino acontece praticamente só na China. Para desenvolver o refino aqui, entra em quest?o um interesse estratégico. A China, proprietária da tecnologia, n?o necessariamente quer que o refino seja desenvolvido em outros lugares. Restaria criar políticas de incentivo para desenvolver a tecnologia aqui, como os Estados Unidos fizeram com o Inflation Reduction Act, para desenvolver o mercado local, e o Chips Act, de semicondutores. O Chile tem tentado fazer isso e o Brasil pode tentar também. Algo nesse sentido faz parte do plano Nova Indústria Brasil: a ideia de articular uma cadeia de valor que vai ajudar a transi??o. Valor: O relatório da Cepal fala em “uma lacuna de investimentos em setores vinculados aos objetivos do desenvolvimento sustentável”. Como é o vínculo entre o IED e os ODS? Mageste: Tanto a Cepal quanto a Unctad têm insistido na capacidade que os investimentos internacionais podem ter para ajudar os países a atingir os ODS. Pense, por exemplo, no saneamento básico, que é muito importante para o Brasil. Esse é um dos principais pontos dos ODS. Assim, quando entra investimento estrangeiro para o setor de saneamento, por exemplo na privatiza??o de uma empresa, a princípio esse investimento está relacionado aos ODS. Mas ent?o é preciso medir, para verificar se realmente está aumentando o atendimento à popula??o que precisa. Cada ODS tem suas metas e essa é uma das mais importantes nesse caso. Ent?o a quest?o passa a ser: como incentivar que o investimento resulte em avan?os nas metas específicas? é por meio de cláusulas nos contratos de concess?o? Se estamos falando de uma privatiza??o, quando o governo passa a responsabilidade para a iniciativa privada, que mecanismo garante a amplia??o do acesso ao servi?o? O mesmo vale para a energia e para a infraestrutura de transporte. é importante que os governos atuem para incentivar a iniciativa privada n?o só a investir, mas também a favorecer a popula??o. A presen?a de empresas estrangeiras ajuda a diminuir a desigualdade de gênero” Valor: Há exemplos interessantes nessa dire??o? Mageste: Sim. Um dos ODS que mais me interessam, pessoalmente, é o da igualdade de gênero. Tenho visto muitos estudos novos sobre IED, interessantíssimos, que mostram como a presen?a de empresas estrangeiras ajuda a diminuir a desigualdade de gênero. Muitas vezes essas empresas têm outros métodos de administra??o ou seguem regras do país de origem. Ent?o digamos que uma empresa alem? do ramo alimentício se instale em outro país. Nesse caso, ela segue a lei alem?, que estipula, salvo engano, que 40% dos cargos de gest?o e lideran?a devem ser ocupados por mulheres. Isso é um investimento que atua para atingir uma meta dos ODS. Mas n?o basta, é claro. é importante também ter uma regula??o nacional, que ajude as empresas a ter a compliance com o arcabou?o jurídico de cada país. Valor: O que determina o sucesso de uma política de atra??o de investimentos? Mageste: A atra??o de investimentos deve estar atrelada a políticas integradas de desenvolvimento produtivo como um todo. A quest?o central é a vis?o do que queremos para o país, o que consideramos importante para o desenvolvimento. Em seguida, como os investimentos ou capitais estrangeiros podem favorecê-lo? Como podem ajudar a atingir os ODS e demais objetivos de desenvolvimento? N?o basta pensar em incentivos fiscais, porque, como sabemos, esse é um jogo de soma zero, leva a guerras fiscais e coisas assim. N?o vale a pena só oferecer incentivos para as empresas investirem em tal ou tal parte do Brasil. A quest?o é como incentivar uma empresa a vir e ao mesmo tempo produzir, comprar e contratar aqui, capacitar a m?o de obra aqui, vender e investir em outras partes da sua própria cadeia de valor. E como avaliar as políticas? Se um país oferece algum incentivo, está privilegiando um setor em detrimento do outro. Como avaliar se as políticas realmente surtiram efeito? Esse é o ponto de uma política de desenvolvimento e atra??o de investimento. Valor: E que li??o podemos aprender com outros países? Mageste: O elemento comum é o foco setorial. Ao desenhar uma política de atra??o de investimentos, é preciso identificar os setores que fazem mais sentido para os objetivos postos. A Turquia é um bom exemplo, porque mapeou muito bem os setores que s?o mais fortes ou os que ela quer atrair. A agência de atra??o de investimento da Turquia é muito proativa: vai nos mercados, conversa com as empresas estrangeiras dos setores mais importantes e oferece ajuda para desenvolvê-lo, com vários incentivos. é a chamada “one stop shop”: um portal on-line, por exemplo, que resolve todos os problemas burocráticos do investidor em potencial. Essa é uma tendência atual bem interessante.