Após causar atraso na final do US Open, Trump 'cochila' na arquibancada

Os segredos para conseguir cumprir as resolu??es de Ano Novo

1 de 2 Fazer atividades físicas e diminuir o tempo gasto nas redes sociais est?o entre as resolu??es de Ano Novo mais comuns — Foto: Divulga??o

Quase todos os anos,??sonhar com mulher no jogo do bicho desde que me tornei adulto, comecei o Ano Novo determinado a cumprir uma série de resolu??es. Como é previsível, os resultados têm sido irregulares.

Em 2021, basicamente cumpri meu objetivo de fazer uma sess?o diária de 20 minutos de treinamento de alta intensidade, mas fracassei completamente com meu objetivo de sair das redes sociais.

Segundo meus relatórios semanais de tempo gasto na frente das telas, ainda passo duas a três horas por dia com meu telefone celular, lendo más notícias em grande parte do tempo.

Estou longe de estar sozinho na minha determina??o de iniciar cada novo ano com um plano de autoaprimoramento.

Pelo menos um quarto das pessoas faz pelo menos uma resolu??o de Ano Novo e grande parte dessas boas inten??es termina em decep??o.

Para quem n?o segue essa tradi??o, o próprio ato de criar uma resolu??o de Ano Novo pode parecer ilógico.

Racionalmente falando, o dia 1° de janeiro n?o deveria ser melhor que nenhum outro dia do ano para fazer uma mudan?a de vida.

Qual seria ent?o o motivo dessa press?o desnecessária para aprimorar a nossa vida sempre que abrimos um novo calendário?

Pesquisas psicológicas recentes indicam que existem muitas raz?es para aproveitar o primeiro dia do Ano Novo para come?ar um novo regime, por exemplo. E, ao compreender e fazer uso desses mecanismos, é possível aumentar as possibilidades de cumprir com nossos objetivos para 2022.

O efeito do novo come?o

é difícil definir exatamente quando come?ou a nossa tradi??o de fazer resolu??es de Ano Novo.

Anna Katharina Schaffner, historiadora cultural e autora do livro The Art of Self-Improvement ("A Arte da Automelhoria", em tradu??o livre), indica referências literárias sobre a automelhoria que remontam a séculos atrás - até à China antiga e aos estoicos romanos, por exemplo.

A prática de estabelecer objetivos em uma data específica do calendário já era comum nos anos 1860, como se pode ver em uma das cartas de Mark Twain.

"Ontem, todos fumaram seu último charuto, tomaram sua última bebida e fizeram seu último juramento", escreveu Twain em 1° de janeiro de 1863.

"Hoje, somos uma comunidade piedosa e exemplar. Daqui a 30 dias, teremos abandonado nossa reforma aos ventos e saído para retomar nossas antigas imperfei??es muito mais cedo que das outras vezes. Também relembraremos alegremente como fizemos o mesmo na mesma época, no ano passado", acrescentou.

Na opini?o de Schaffner, n?o é coincidência que muitos de nós sejamos t?o propensos a fazer mudan?as positivas após um prazeroso final de ano.

"Nós nos permitimos muitas coisas e agora é o momento da purifica??o", afirma ela, acrescentando que é significativo que muitas resolu??es concentrem-se na abstinência - abandonar maus hábitos para limpar o nosso corpo e a nossa alma.

O "princípio da purifica??o" n?o consegue explicar totalmente a nossa inclina??o para resolu??es de Ano Novo.

Afinal, muitos de nós podemos fazer promessas após ter festividades relativamente sóbrias. E muitos dos nossos objetivos s?o relacionados ao trabalho ou buscas pessoais que nada têm a ver com expia??es físicas ou espirituais.

Existe ent?o alguma coisa especial sobre essa data que motive qualquer tipo de mudan?a pessoal? Podemos encontrar algumas indica??es na forma em que o cérebro organiza suas memórias.

Os psicólogos descobriram que, em vez de observar nossa vida como algo contínuo, nós tendemos a elaborar uma narrativa dividida em "capítulos" separados que marcam as diferentes etapas da vida.

Esses capítulos podem caracterizar eventos importantes da vida, como entrar na universidade, casar-se ou o nascimento do seu primeiro filho.

Mas a nossa mente sempre pode dividir esses capítulos importantes em se??es menores, de forma que a entrada de um novo ano pode representar uma interrup??o da narrativa.

"As pessoas tendem a pensar na própria vida como se fossem personagens de um livro", segundo Katy Milkman, professora de psicologia da Escola Wharton da Universidade da Pensilvania, nos Estados Unidos, e autora do livro How to Change ("Como Mudar", em tradu??o livre).

"Sempre que você tem um momento que parece ser um marco divisório de tempo, a sua mente cria a sensa??o de que você come?ou de novo", afirma Milkman. "Você está virando a página e surge uma folha em branco, é um novo come?o."

Isso ajuda a criar distancia psicológica dos fracassos do passado, segundo ela, fazendo com que você sinta que eventuais erros s?o o "antigo você" e agora você fará melhor.

Em 1° de janeiro, posso achar que todo o tempo que perdi no Twitter era o "David de 2021", mas o "David de 2022" terá o foco e a dedica??o de Zadie Smith - autora, entre outros, do livro O Ca?ador de Autógrafos -, que se afasta, de alguma forma, das redes sociais (e, na verdade, de qualquer distra??o online) para escrever seus best-sellers.

Milkman trabalhou com Jason Riis, da Universidade Harvard, e sua aluna de doutorado Hengchen Dai, hoje professora da Faculdade de Administra??o da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) - ambas nos Estados Unidos - para investigar o "efeito do novo come?o" em diversos ambientes.

Em um estudo, eles analisaram dados do stickK, um aplicativo e website popular de defini??o de objetivos, destinado a ajudar as pessoas em seu autodesenvolvimento.

Dai e Milkman concluíram que as pessoas n?o s?o propensas a definir novos objetivos apenas no Ano Novo - como seria esperado - mas também depois de qualquer período de férias.

Elas encontraram até uma leve acelera??o às segundas-feiras, com as pessoas tentando reiniciar com a nova semana, e no primeiro dia de cada mês.

Para obter mais evidências, Milkman, Riis e Dai testaram se poderiam provocar artificialmente o efeito de novo come?o.

Para isso, os pesquisadores primeiramente convidaram os participantes a inscrever-se para receber um lembrete dos seus objetivos por e-mail - com diferen?as sutis na forma de mencionar a data.

Considere, por exemplo, um lembrete enviado em 20 de mar?o. Para alguns alunos, a data era marcada simplesmente como "a terceira quinta-feira de mar?o" - o que dificilmente seria um marco temporal significativo. Para outros, a referência dizia "o primeiro dia da primavera" - que supostamente provocaria uma sensa??o de novo come?o.

A estratégia funcionou conforme o esperado. Os alunos que haviam sido incentivados a pensar em um "novo come?o", com base em uma marca temporal, foram mais propensos a iniciar um novo hábito de ginástica, melhorar a higiene do sono ou passar menos tempo nas redes sociais, em compara??o com aqueles que n?o haviam sido levados a considerar a data como uma divis?o clara e significativa da linha do tempo.

Naturalmente, o Ano Novo é um ponto de partida muito atraente, em compara??o com outros eventos. "é uma grande quebra de capítulo para a maioria das pessoas", afirma Milkman.

Do fracasso ao sucesso

2 de 2 Alimenta??o saudável — Foto: Freepik

Os céticos podem ainda imaginar se essa prática vale a pena. Certamente, a maioria das pessoas está apenas a caminho do fracasso - ou n?o? Os dados disponíveis ainda demonstram que a taxa de sucesso geral é mais alta do que muitos podem pensar.

Segundo uma pesquisa recente da empresa britanica YouGov, 35% das pessoas que fizeram resolu??es de Ano Novo conseguiram atingir todos os seus objetivos, enquanto 50% das pessoas conseguiram manter algumas das suas resolu??es.

Ou seja, existem muitas pessoas que est?o fazendo pelo menos algumas mudan?as positivas nas suas vidas - mesmo tendo também falhado em parte dos seus objetivos.

A forma como você expressa suas resolu??es pode fazer uma grande diferen?a. Per Carlbring, da Universidade de Estocolmo, na Suécia, rastreou recentemente o progresso de 1.066 pessoas que fizeram resolu??es de Ano Novo no final de 2017.

Ele dividiu as inten??es em duas categorias. Alguns eram "objetivos de evas?o" - que, como o nome sugere, envolviam abandonar algo como doces, álcool ou redes sociais. Os demais eram "objetivos de aproxima??o" - que envolviam adotar um novo hábito, como nadar duas vezes por semana ou tocar viol?o à noite.

Em média, os participantes estavam 25% mais propensos a atingir seus objetivos de aproxima??o que os de evas?o. Por isso, "em vez de parar de fazer coisas, você deve come?ar a fazer algo", conclui ele.

Pude observar claramente esse efeito nas minhas resolu??es para 2021. Cumpri em grande parte minha resolu??o de manter uma sess?o diária de treinamento de alta intensidade (objetivo de aproxima??o), mas falhei completamente na minha tentativa de sair das redes sociais (objetivo de evas?o).

Felizmente, Carlbring afirma que muitas vezes podemos transformar um objetivo de evas?o em um objetivo de aproxima??o, para maximizar nossas chances de sucesso.

Suponha que você queira perder peso, por exemplo. "Em vez de dizer que quer parar de comer doces todos os dias, diga que você quer come?ar a comer cenouras todas as tardes", aconselha ele. "Isso aumentará o nível de a?úcar no sangue e você n?o terá vontade de comer outra coisa."

Da mesma forma, se eu quero reduzir meu uso de redes sociais, poderei estabelecer o objetivo de ler 10 páginas de um e-book sempre que tiver algum tempo livre ou como distra??o no meu telefone - é uma atividade produtiva que, espero, irá me afastar da minha leitura habitual de más notícias.

é claro que você ainda precisará de perseveran?a. Mas Milkman e Carlbring argumentam que devemos perdoar os fracassos inesperados. "Se você enfrentar um revés, poderá pensar que nunca será capaz de atingir seu objetivo", segundo Carlbring. "Mas você pode tentar ver isso como uma li??o a ser aprendida."

Ao enfrentar um forte bloqueio, você sempre pode tentar buscar outro marco temporal para fazer um novo come?o. Se você come?ar a fracassar em fevereiro, por exemplo, poderá fazer um compromisso de come?ar novamente no início de mar?o - um pequeno ato de reajuste que renovará em você o incentivo do novo come?o.

Qualquer jornada que valha a pena ser percorrida incluirá alguns solavancos ao longo do caminho. Mas, compreendendo a psicologia das mudan?as pessoais, você pode aumentar em muito as chances de atingir seus objetivos.

David Robson é escritor de ciências residente em Londres. O seu próximo livro, O efeito da expectativa: como o seu pensamento pode transformar a sua vida (em tradu??o livre do inglês) será publicado em 6 de janeiro no Reino Unido e em 15 de fevereiro de 2022 nos EUA. Sua conta no Twitter é @d_a_robson.