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ícone do jornalismo acreano, Ayres Rocha deixa a Rede Amaz?nica após mais de 30 anos e é homenageado

Depois de mais de 30 anos e mais de 6 mil "boa noite" com uma voz inconfundível,íconedojornalismoacreanoAyresRochadeixaaRedeAmaz?nicaapósmaisdeanoseébingo de sílabas iniciais o jornalista e apresentador Ayres Rocha, ancora do Jornal do Acre 2a Edi??o, deixa a Rede Amaz?nica nesta sexta-feira (8) após se aposentar da profiss?o. Com homenagens e sob forte como??o, colegas de reda??o se reuniram nos estúdios da Rede Amaz?nica Acre, durante o jornal, para homenageá-lo e aplaudi-lo, reverenciando o ícone do jornalismo acreano.

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O Jornal do Acre 2a Edi??o, ou JAC2, como é mais conhecido, foi o primeiro telejornal da Rede Amaz?nica no estado e está no ar desde 1995. Por esta bancada, já passaram vários apresentadores, mas até hoje, foi o jornalista Ayres Rocha que conseguiu construir uma rela??o forte e duradoura com os telespectadores.

1 de 5 Após mais de 30 anos, Ayres Rocha se despede da tela da Rede Amaz?nica Acre — Foto: Gilberto Sampaio/ Rede Amaz?nica Acre

Por meio deste veículo, ele entrou na sua casa de segunda a sábado. O JAC2 tornou-se parte da rotina das famílias, seja no fim de tarde ou a noite, os olhares dos adultos e pequenos acompanham ele. Entre as reportagens, algumas marcam, como a do acidente de avi?o em Manoel Urbano, no interior do Acre, em mar?o deste ano.

FOTOS: Veja trajetória do jornalista Ayres Rocha

Ayres Rocha noticiou fatos que est?o na memória do povo acreano. A trajetória do apresentador no jornalismo come?ou “meio que por acaso”. Em meados de 1989, Ayres trabalhava como bancário pela manh? e resolveu procurar outro emprego para preencher o tempo da tarde.

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Foi ent?o que ele teve uma oportunidade na ent?o 'TV Acre'. Na reda??o de jornalismo, passou meses observando como os profissionais trabalhavam. Com o tempo, Ayres entendeu o funcionamento da reda??o, até que um dia, o apresentador do programa de esporte faltou.

A chefe de jornalismo ent?o perguntou se o Ayres “toparia” apresentar e ele n?o pensou duas vezes. Apesar do medo, ele encarou as cameras e deu tudo certo. Mas, o trabalho exigiu adapta??o no início, já que teve que enfrentar a falta de alguns recursos para o telejornalismo no come?o da carreira.

N?o havia computador, nem teleprompter, ou conhecido como TP, instrumento este usado pelo apresentador que lê o texto da notícia. Sem essa tecnologia, era preciso improvisar.

"O TP funcionava assim: tinha uma camera em cima, o script embaixo. Ela mostrava o script, essa imagem ia para a TV que refletia num vidro e esse vidro ficava na frente da camera , o apresentador conseguia dar notícia assim", disse Aldo Fran?a, cinegrafista da Rede Amaz?nica Acre.

Após várias décadas...

Ayres acompanhou muitas mudan?as no telejornalismo. O apresentador que passava todo o jornal sentado em um modelo mais formal, agora tem a liberdade para apresentar em pé. Ele assumiu a bancada do jornal da manh?, depois o da tarde, até chegar no jornal de maior audiência, o ent?o Jornal do Acre.

Ainda sem o curso superior em comunica??o social, Ayres fez vestibular e foi aprovado. Conquistou a forma??o na área e fez muitas amizades. O jornalista e ex-professor Bruno Cassio foi um destes.

"Quis o destino que eu fosse seu professor na faculdade de jornalismo. Você, já com muita experiência profissional, n?o tinha mais o que aprender porque você já tinha aprendido muito, mas mesmo assim com humildade, você prestou vestibular e foi para a faculdade. E aí, nesses quatro anos de curso, nós convivemos ainda mais e estreitamos ainda mais os la?os de amizade", disse ele.

2 de 5 Jornalista Ayres Rocha na bancada do Jornal do Acre — Foto: Arquivo pessoal

A cada jornal, "o professor", como muitos colegas de reda??o gostam de chamá-lo, foi desenvolvendo um jeito próprio de noticiar. Uma apresenta??o mais séria e, às vezes, emocionada.

"Muitas reportagens, quando voltavam para ele, o Ayres estava chorando e muitas vezes nem conseguia continuar a apresenta??o", disse Jefson Dourado, ex-gerente de jornalismo da Rede Amaz?nica Acre.

E em outros momentos, o riso que era difícil de controlar.

"Estava finalizando uma matéria séria e ele foi encerrar o jornal. Ele quase n?o consegue encerrar de tanto que ele come?ou a rir, teve uma crise de riso", disse Agatha Lima, editora-chefe do Jornal do Acre 2a Edi??o.

3 de 5 Ayres Rocha diviu a bancada do JN com a apresentadora Jéssica Senra — Foto: Divulga??o

Momento histórico

O "professor" orgulhou muitos acreanos em 2019 quando representou o estado em uma edi??o comemorativa dos 50 anos do Jornal Nacional. Ele dividiu esse momento com Jéssica Senra, apresentadora do Bahia Meio-Dia. Na bancada de maior audiência do país, Ayres Rocha n?o deixou de enaltecer o Acre. E, claro, um nó de gravata rendeu história nos bastidores.

"Eu tive a oportunidade de ajudá-lo a fazer um nó da gravata. Eu ensinei aqui, diante deste mesmo armário, o Ayres a fazer um nó de gravata, que nem o Barack Obama", comentou William Bonner, apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional.

O ex-gerente de Jornalismo da Rede Amaz?nica Acre, Carlos Bonnateli, também destacou o jeito irreverente de Ayres.

"Teve um dia que ele mandou um vídeo pra mim. E nesse vídeo, o William Bonner estava ajeitando, fazendo nó na gravata pra ele. A partir daquele momento, eu falei esse é o Ayres, né? Ele já conquistou todo mundo lá", brincou.

Pai, irm?o e amigo

Mas o Ayres é muito mais do que um apresentador e jornalista nacionalmente conhecido. Ele também é pai, amigo, irm?o. A ex-editora do JAC2, Crislei Souza, relembra do velho amigo com muito carinho.

"Quantas vezes eu estava lá na reda??o, assim como os colegas. E a reda??o é aquele batid?o, muitas vezes a gente tem dias mais tensos, e principalmente nesses dias do nada, a gente fechando o jornal naquela correria, ele dizia assim: 'Hein filha, deixa eu te contar aquela'. Aí ele vinha ou com uma piada, ou com uma história dessas que ele viveu nos mais de 30 anos no jornalismo, histórias sempre engra?adas", falou.

A gerente de jornalismo da Rede Amaz?nica Acre, Geisy Negreiros, também tem boas memórias de Ayres.

"Eu n?o lembro do Ayres chegar chateado, com raiva, mal-humorado. Também pelas experiências de vida, né? Ent?o ele traz uma leveza muito grande para o ambiente de trabalho, ele é uma pessoa muito divertida. Quantas vezes a gente n?o escutou a mesma piada do Ayres e riu do mesmo jeito, a gente para pra ouvi-lo, né?", comentou.

Em qualquer situa??o, o Ayres sempre tem uma piada para contar. Miriam Moura, jornalista e amiga dele, relembra uma delas.

"Eu me lembro de uma história que ele contava do irm?o dele falecido, o álvaro, que aqui em Rio Branco a esposa dele sempre queria viajar para fora do estado. Um dia ele chegou em casa, mandou a esposa fazer as malas dela, falou que iriam viajar. A esposa, claro, arrumou toda a mala e eles colocaram no carro: 'vamos come?ar a nossa viagem'. Aí ele come?ou a rodar a cidade, passou por várias ruas [...] rodou, rodou, rodou a cidade e voltou para casa. Aí ela falou: 'mas a gente n?o ia viajar?'. Ele disse: 'mas a gente n?o viajou? A gente foi para Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro. Tu n?o viu que a gente viajou? A gente conheceu vários estados num dia só' [em alus?o às ruas da capital]. O Ayres contando na reda??o, meu Deus do céu, eu nunca esque?o essa história", diz.

Em casa, Ayres se preocupa com o bem-estar da família. Ele é casado, pai de três filhos e tem quatro netos.

"As pessoas ficavam muito surpresas, principalmente pelo jeito dele, porque elas veem uma pessoa séria no jornal, né? E todo mundo falava assim: 'nossa, seu pai é brincalh?o, ele é engra?ado, ele n?o é t?o alto quanto no jornal e, nossa, ele fica do teu lado o tempo todo, te dando carinho, né?' E ele é um pai presente. E isso me marcava bastante, ele ser sempre presente", disse Luiza Rocha, filha de Ayres.

Infancia

José Ayres de Souza Rocha viveu a infancia em uma casa na Rua Silvestre Coelho, no bairro Bosque, em Rio Branco. O pai dele, o paraense álvaro Vieira da Rocha, e a m?e Raimunda de Souza Rocha, de Xapuri, no interior do Acre, tiveram nove filhos biológicos e duas filhas adotivas. Ayres é o ca?ula.

4 de 5 Ayres Rocha, na infancia, fantasiado de Chico Anysio — Foto: Arquivo pessoal

O menino que se vestia de personagens do Chico Anisio tinha a prote??o dos irm?os até nas travessuras. Isto é o que conta a irm? dele, Elaina Rocha. Na mesma sala, a família se reunia para ouvir os discos do rei Roberto Carlos.

"Quando o papai chegava do trabalho, o Ayres continuava debaixo da casa, de joelhos, e essa aqui corria com a folhinha, colocava debaixo da língua e dizia: 'maninho, fica com essa folhinha debaixo da tua língua que ela vai te salvar, mam?e e papai v?o esquecer de tudo que tu fez'. E ele dizia: 'tomara, porque olha como eu estou', aí ele come?ava a se tremer", relembra.

5 de 5 O menino Ayres Rocha ao lado das irm?s — Foto: Arquivo pessoal

Em 2014, uma notícia deixou os irm?os preocupados. Ele passou pelo tratamento do cancer de próstata.

"Desabou o mundo quando ele disse que estava com cancer. Pra nós foi como se tivesse jogado um balde de água fria. E todo mundo ficou doente junto com ele", disse Elaina.

Hoje, com seu testemunho de vitória, incentiva outras pessoas a cuidarem da sua saúde.

"Ele me deu um apoio muito bom, contou a situa??o dele que teve também, fez o tratamento, estava bem, ent?o eu n?o ficava desesperado e tal, gra?as a Deus que foi um conselho que eu botei na minha cabe?a que até hoje está servindo", disse Francisco Gomes, aposentado, que também trata o cancer de próstata.

Aposentadoria

Após mais de três décadas de trabalho, Ayres deixa a bancada para ter mais momentos com a família, curtir o time do cora??o, Vasco da Gama, e claro, as praias.

"Feliz também por sua aposentadoria. Eu vou te fazer um convite. Olha o solz?o que faz aqui na Bahia, vem pra cá! Agora você tem tempo, agora tá tranquilo, vem que eu t? lhe esperando meu querido", disse Jéssica Senra, apresentadora do Bahia Meio-Dia e parceira de bancada do JN.

Dos colegas, ficam as homenagens e as reverências ao profissional e amigo.

"Parabéns por tudo que você ajudou a construir, você ajudou a construir grandes amizades acima de tudo. é uma pessoa que merece aí essa aposentadoria, vamos dizer assim, com muito respeito", disse Luís Augusto, ex-diretor de jornalismo da Rede Amaz?nica.

"Para essa nova fase, Ayres, eu só tenho que te dizer que foi um prazer, uma honra poder trabalhar com você, conviver com você na reda??o, aprender com você. Eu tenho muito orgulho, muito orgulho mesmo, de ter passado pela Rede Amaz?nica e poder ter convivido aí com um profissional t?o talentoso e t?o carismático como você", contou Júnia Vasconcelos, repórter.

Antes do último boa noite na televis?o, o nosso 'tchau', e o reconhecimento para o apresentador que nos informou, fez rir e também chorar.

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