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'Nosso mercado cresceu pelas próprias pernas, de forma sustentável': presidente da Associa??o Brasileira de Games fala sobre o potencial do setor

O primeiro dia da Rio2C,ópriaspernasdeformasustentávelpresidentedaAssocia??minimo para sacar na blaze que aconteceu em 27 de maio, trouxe toda uma programa??o voltada para os videogames no espa?o SportsOn. N?o é de se admirar, visto que segundo dados da Associa??o Brasileira de Games (Abragames) e da Newzoo, o Brasil é o maior mercado de games da América Latina. O setor movimento cerca de R$14 bilh?es anualmente, emprega mais de 13 mil profissionais e abriga mais de mil estúdios independentes de desenvolvimento de jogos. O presidente da Abragames, Rodrigo Terra, marcou presen?a na segunda palestra do dia, sobre a Gamescom Latam, que aconteceu no mês passado em S?o Paulo, e concedeu entrevista ao GLOBO depois da conversa. Observamos um crescimento muito grande do mercado americano de games durante a pandemia do Covid-19, e o que se seguiu foi um encolhimento, com demiss?es em massa onde antes houve contrata??es em massa. Isso pode acontecer no Brasil? Nossa indústria é muito mais recente. O mercado aqui no Brasil come?a mesmo a partir do final da década de 2000. A gente nunca teve uma organiza??o desse setor, nem o olhar das políticas públicas, como outras mídias tiveram. O resultado foi que o mercado acabou surgindo e crescendo pelas próprias pernas, a gente acabou crescendo de uma forma muito sustentável. Evitamos o inflacionamento e criamos empresas mais resilientes. O momento é bom para um impulsionamento do poder público no setor, tanto em nível federal, quanto estadual e municipal também, para a gente poder ter um mercado que agora n?o é mais só sustentável, mas é um mercado em franco crescimento. é preciso apoiar quem está no come?o e no meio da jornada. Que formas essa atua??o pública pode tomar para impulsionar o mercado? O edital de fomento direto é importante, por exemplo para projetos no início, projetos com muito risco, 100% artísticos, iniciativas culturais, experimentais. Também é necessário auxiliar na parte de finaliza??o do desenvolvimento do jogo, com fundos adicionais para fazer demos, publicar, fazer o marketing ou para fechar com uma publisher. Também pode ser facilitado o financiamento, como através de fundos especializados em investimento de risco na área da economia criativa, de parcerias público-privadas que invistam nas empresas, que entendam e absorvam o risco do produto. Até mesmo bancos públicos podem ajudar, financiando os estúdios. E ao mesmo tempo ter linhas de financiamento para mercados mais maduros, empresas maiores que v?o fazer investimentos na ordem dos dez, quinze, trinta milh?es de reais. A gente tem poucas iniciativas como essas no Brasil. Além disso tudo pode-se fazer investimentos em acelera??o, que podem estar cruzados com financiamento e editais em programas de incuba??o e de acelera??o de empresas, que criam um hub de conhecimento, recurso e crescimento de infraestrutura capaz de atender à opera??o de um estúdio. Assim você treina profissionais para fazer negócios e treina os talentos dentro da empresa para continuar fazendo bons jogos, sempre aumentando as expectativas, aumentando a competitividade. E para quem nunca fez nada na área de desenvolvimento, mas quer aprender? Os recursos s?o escassos. Um edital de 10 mil reais n?o dá para fazer demo. Muita gente vai argumentar que com 50 mil reais, dá pra fazer. Mas aí é uma pessoa, sozinha, duas no máximo, durante dois, três meses. Para quem n?o sabe nada e quer come?ar, existe a etapa da capacita??o, que n?o tem a ver necessariamente com edital, mas acontece na universidade, no curso técnico, numa universidade técnica, em cursos livres. Cada vez mais está aumentando o nível da capacita??o pública, com acesso a cursos de gra?a, em diversos níveis técnicos. Inclusive, após o processo de capacita??o você vai fazer um projeto melhor para entrar em editais, fora os próprios cursos que oferecem dinheiro para um primeiro projeto. Existem também editais atrelados a cursos de capacita??o, que criam um ciclo virtuoso de aprendizado e conhecimento para que você consiga fazer um uso mais concreto daquele dinheiro público. Como o senhor vê a quest?o da inclusividade dentro do mercado de games no Brasil? A gente ainda está muito defasado, muito aquém do que a gente precisa em termos de paridade de gênero. A gente tem avan?ado, mas a meu ver é um avan?o tímido. Temos feito um trabalho de estímulo, na Abragames tem o Conselho da Diversidade, que advoga sobre essas quest?es dentro do setor, e isso passa por capacita??es para que tenhamos lideran?as diversas, diversificar n?o só na parte do talento mas também de gest?o e lideran?a. Eu sempre falo que o videogame, assim como outros setores, é muito favorecido quando se tem uma equipe e uma lideran?a diversas, porque essa diversidade passa pelas histórias e pela jogabilidade que a gente está construindo. Isso torna a coisa muito mais original, e originalidade vende. As pessoas no mundo todo est?o buscando histórias originais, feitas em outros lugares. Como é que a gente pode olhar para gêneros [de fic??o] com uma forma brasileira? Isso tem ressonancia com o público internacional. Ent?o, quanto mais experiências diversas você tiver dentro do seu time, mais você vai conseguir atingir um produto original. A diversidade vende. A diversidade n?o é só um movimento de inclus?o social. A diversidade também é um movimento importante, comercial, para que a gente consiga fazer bons produtos. Depois de décadas, estamos vendo movimentos no mercado americano para aumentar o pre?o de jogos AAA de US$60 para US$70, ou mesmo US$80. Como isso pode afetar o Brasil? Isso tende a beneficiar o mercado brasileiro. A gente tem um mercado de indie e AA, e isso faz com que a gente consiga ter um nível de precifica??o que pode ficar dentro de uma margem que vai ser menor do que os pre?os de jogos estrangeiros. Os AAA aqui no Brasil v?o seguir a mesma tendência. Existe um rumor que o GTA VI vai custar R$700. Mas já tem jogos cujas vers?es deluxe custam 100 dólares lá, e R$400 ou R$500 aqui. Acredito que produtores e desenvolvedores brasileiros v?o ter uma grande vantagem competitiva nesse sentido - se souberem precificar. Por isso que é importante a capacita??o em negócios, porque n?o adianta a gente saber fazer jogo se a gente n?o souber vender ele, nem a que pre?o colocar para poder ter público. Tivemos um painel sobre a Gamescom Latam aqui na Rio2C, e nessa semana foi publicada uma carta aberta pedindo uma mudan?a nas condi??es impostas aos desenvolvedores independentes brasileiros para expor no evento (a íntegra da carta pode ser lida aqui). Você pode nos falar algo sobre isso? A Abragames representa os desenvolvedores. Ent?o a gente tem diálogo constante com a Gamescom Latam. O que a gente sempre faz em todos os eventos que a gente organiza, participa, ou investe, é fazer depois um grande chamamento de demandas. Ent?o a gente é aberto, Porta aberta, o contato é público, tudo é público. A gente sempre estrutura as demandas e as repassa de forma oficial para os eventos. Trabalhamos por perguntas e demandas, e elas precisam vir de canais oficiais, ent?o se é um ofício, se é uma carta, tem que ser direcionado para a gente. A Abragames investe no evento, quem organiza é a Gamescom Latam. é um evento importante. A carta é legítima: se tem um segmento do setor descontente é importante fazer a manifesta??o. Mas eu acredito que é sempre mais importante ainda você estabelecer um diálogo. Espero que todos os envolvidos queiram construir uma ponte, construir debates, diálogos, para que a gente consiga fazer os melhores eventos de games do mundo. E, para todos os desenvolvedores, a Abragames está aqui, sempre à disposi??o para poder fazer essa interlocu??o, essa intermedia??o, esse debate entre desenvolvedores, players, publishers e organizadores de eventos. Ent?o, a Abragames está de portas abertas para quem assinou a carta entrar em diálogo. A gente trabalha para o setor. Nota: um dia depois desta entrevista, a Abragames e a Gamescom Latam enviaram declara??es sobre a carta dos Gamedevs Unidos ao portal The Gaming Era. Em sua resposta, a Abragames declarou que "valoriza o diálogo construtivo e a escuta ativa dos profissionais do setor, reconhecendo que manifesta??es públicas s?o parte legítima de um ecossistema maduro e plural", e esclareceu que "Na gamescom latam, a Abragames atua como parceira institucional, com o objetivo de promover a visibilidade de estúdios nacionais e apoiar a internacionaliza??o do setor, por meio do Projeto Brazil Games, desenvolvido em parceria com a ApexBrasil", e que "a Abragames n?o faz parte da organiza??o do evento e n?o tem ingerência sobre sua estrutura, opera??o ou gest?o logística. Ainda assim, manteremos nosso compromisso em atuar como interlocutora propositiva entre organizadores e desenvolvedores, sempre com o propósito de construir solu??es coletivas em benefício dos nossos associados, da comunidade de desenvolvedores e da indústria como um todo." 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