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Até que ponto a tecnologia ajuda a combater o jet lag?

N?o há nada que estrague a alegria de viajar quanto um caso sério de fadiga,o palpite de hoje no jogo do bicho ou o famoso jet lag. é por isso que surgiu todo um setor para ajudar a lidar com a quest?o, oferecendo solu??es como óculos de terapia de luz, suplementos específicos, aplicativos e coaching. Perder passaporte ou bagagem? Pesquisa revela os maiores medos dos viajantes brasileirosStar of the Seas: saiba como é viajar a bordo do maior navio de cruzeiros do mundo na atualidade Mas será que algum deles realmente funciona? Testei dois métodos populares na viagem de duas semanas que fiz à ásia em maio. Saí de Nova York, onde moro, rumo a Seul, na Coreia do Sul, e a Taipé, em Taiwan – ambas do outro lado do globo, ou seja, uma diferen?a literal do dia para noite –, e depois voltei para casa. O Flykitt e o Timeshifter, os dois aplicativos a que cedi o controle do meu ritmo biológico, s?o programas personalizados baseados em abordagens científicas para reduzir os estragos causados pela diferen?a de fuso. Ambos me orientaram sobre a hora de dormir e me expor à luz, consumir cafeína e tomar suplementos, mas adotaram abordagens diferentes, pois enquanto o primeiro me ofereceu um regime pesado de vitaminas, o segundo se concentrou na prepara??o anterior ao voo. A ciência do jet lag Os dois aplicativos se baseiam na ciência circadiana, ou seja, no estudo do relógio interno do organismo – que se encontra no cérebro e segue um ciclo de aproximadamente 24 horas. é ele que influencia muitas mudan?as mentais, físicas e comportamentais – como a libera??o de horm?nios, o sono e a vigília, por exemplo. As pesquisas mostram que a exposi??o à luz desempenha um papel fundamental na sincroniza??o desses ritmos com o mundo exterior. O jet lag ocorre quando essa cadência biológica fica fora de sincronia com o horário local, resultando em desconfortos como má digest?o, memória e concentra??o confusas e sono picado. Muitos especialistas afirmam que a exposi??o à luz é a chave para a transi??o, pois, em momentos estratégicos tem o poder de mudar o relógio em qualquer dire??o. Assim, para adiantá-lo, você deve se expor à luz mais cedo do que o habitual; para atrasá-lo, basta se expor mais tarde. – O cérebro quer ficar acordado, mas você quer dormir – diz Jamie Zeitzer, professor de medicina do sono na Universidade de Stanford e um dos diretores do Centro de Ciências Circadianas e do Sono da mesma institui??o. As viagens longas, que atravessam vários fusos horários, representam um desafio de sincroniza??o: quando parti, Seul estava 13 horas à frente de Nova Iorque e Taipé, 12. Para a maioria, é mais difícil adiantar o horário de dormir do que atrasá-lo. Os aplicativos me ajudaram a entender os cálculos, como o horário ideal para dormir durante o voo e expor os olhos à luz para me ajustar melhor ao meu destino. Primeiro teste: Flykitt Testei primeiro o Flykitt, na viagem de Nova York a Seul. O pacote inicial, que custa US$ 99 para uma viagem de ida e volta, inclui óculos que filtram a luz azul para minimizar a exposi??o à luz e por??es de suplementos destinados a combater a inflama??o. O programa, que promete reduzir o jet lag em apenas três dias, come?ou no dia da partida: inseri os detalhes do voo e respondi algumas perguntas sobre meu consumo de cafeína e padr?es de sono, e na mesma hora o software gerou um cronograma detalhado. Foram 15 horas direto, sem escala, para Seul, para as quais a recomenda??o foi de um cochilo de três horas apenas, ent?o quase n?o dormi. Em vez disso, estudei o cronograma meticulosamente, pus os óculos especiais, fiz as refei??es e tomei as vitaminas em intervalos de poucas horas. O protocolo (patenteado) inclui B6, B12 e C; magnésio glicinato; melatonina; e ácidos graxos ?mega-3. Segundo Andrew Herr, que fundou a empresa em 2022 e já trabalhou como terceirizado na pesquisa de desempenho humano para o Exército dos EUA, os dados mostram que a inflama??o é uma "pe?a-chave" do jet lag e que é "exacerbada pela redu??o ou interrup??o do sono durante a viagem". De cara, como eram novidade, achei até divertidas as mancheias de comprimidos – até que perdeu a gra?a. O esquema me obrigava a tomar quase 40 cápsulas ao longo de três dias, a partir no dia do voo. Também senti uma sede intensa e misteriosa. N?o tinha certeza, mas desconfiei a culpa era das vitaminas. Eu n?o diria que o jet lag desapareceu completamente no terceiro dia, mas dormi bem e me senti disposta. No quinto, pouco antes de voar para Taiwan, já estava totalmente adaptada. O aplicativo me informou que, sem ajuda, essa adapta??o normalmente leva pouco mais de uma semana. Segundo teste: Timeshifter Após mais ou menos uma semana em Taipé, voltei para Nova York seguindo as orienta??es do Timeshifter, mais barato que o Flykitt (US$ 25 por um ano de assinatura). Também n?o precisava de óculos com filtro de luz azul, que eu até gostei de usar. O único suplemento recomendado foi a melatonina, que eu deveria tomar nas quatro primeiras noites, já em casa, para ajudar na readapta??o. Enquanto o Flykitt me instruía a evitar a luz e quando, o Timeshifter me alertava para os horários em que eu devia procurá-la. Quando n?o podia sair, acendia todas as luminárias que podia. De acordo com Zeitzer, da Universidade de Stanford, a lampada comum usada no quarto equivale à metade da eficácia da luz do dia. O programa de uma semana incluía uma mudan?a dois dias antes do retorno, ou seja, tive de me expor à luz várias horas antes de dormir, além de ir adiando aos poucos os horários de ir para a cama e acordar, o que n?o foi prático no finzinho da estada em Taipé – n?o queria dormir até as 10h quando poderia estar batendo perna e devorando bolinhos na rua. Como o voo de volta foi noturno, o aplicativo recomendou que eu já fosse me acostumando ao horário de Nova York, onde era dia, consumindo cafeína até altas horas. Também sugeriu que eu tirasse uma soneca, o que achei meio contraditório depois de tomar chá (acabei cochilando umas duas horas). Já em casa, continuei o esquema de luz à noite e melatonina mais alguns dias. Ficar acordada quando me sentia exausta foi complicado, ainda mais sem a adrenalina de estar em um lugar novo. Levei cerca de cinco dias para voltar ao normal. Conclus?o: nenhum dos dois programas reduziu meu jet lag drasticamente, mas me senti mais lúcida durante e depois da viagem e n?o fiquei doente. A desidrata??o grave pode ter sido uma anomalia, mas foi o grande ponto negativo para mim. Talvez o maior benefício tenha sido a confian?a de saber que a ciência estava ao meu lado. 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