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Nem de menos, nem demais: como saber o quanto adolescentes devem treinar e o impacto do excesso na saúde física e mental

A prática regular de atividade física é fundamental em qualquer fase da vida,údefíresultado da quina 13 mas ela é ainda mais importante na adolescência. Tanto para que isso se torne um hábito na idade adulta, quanto para inúmeros benefícios para a saúde física e mental, como melhora da capacidade cardiovascular, fortalecimento muscular e ósseo, controle do peso, melhor desempenho acadêmico, maior capacidade cognitiva e redu??o de sintomas ansiosos e depressivos. Entretanto, existe um limiar em que o excesso prejudica mais do que ajuda. Mas como saber quanto é demais? As recomenda??es internacionais de saúde indicam que adolescentes devem realizar, em média, pelo menos 60 minutos diários de atividade física moderada a vigorosa. Dessas, ao menos três vezes por semana devem incluir atividades que fortale?am músculos e ossos. Essas diretrizes s?o respaldadas tanto pela Organiza??o Mundial da Saúde (OMS) quanto pelos Centros de Controle e Preven??o de Doen?as (CDC) dos Estados Unidos. De acordo com o pediatra e médico do esporte e do adolescente, Getúlio Bernardo Morato Filho, membro do Grupo de Trabalho de Atividade Física da Sociedade Brasileira de Pedriatria (SBP), o “l(fā)imite” de atividade física para uma prática saudável durante a adolescência é individualizado. — Mas toda vez que ultrapassa 450 minutos de atividade moderada e intensa por semana, é importante algum grau de monitoramento de alguém especializado, de preferência algum médico do esporte para monitorar e apontar qualquer sinal de excesso — pontua o médico. Ainda de acordo com o especialista, o risco pode ser considerado muito alto quando o volume de treinamento é excessivamente alto, como “cinco horas por dia, cinco vezes por semana”. Em geral, isso pode acontecer quando há uma especializa??o precoce em um único esporte. — Essa especializa??o precoce acaba aumentando muito o risco do excesso de treino. Enquanto adolescente, o ideal é que ele tenha contato com várias modalidades diferentes para desenvolvimento de diversos tipos de gestos específicos e n?o só da que ele pratica — explica Morato Filho. Além do tempo de treinamento, para evitar que os riscos do exercício físico em excesso, o médico especialista em medicina do esporte e fisiologia do exercício Paulo Zogaib, coordenador da medicina esportiva do Esporte Clube Pinheiros, ressalta que o treinamento tem que ser individualizado. — Cada um tem uma carga ideal de treinamento. N?o é quanto mais melhor ou aquela história velha do “no pain, no gain”. é exatamente isso que gera, por exemplo, síndromes de desadapta??o que aumentam o risco de les?es. O excesso de treino mostra sinais físicos e psicológicos, como fadiga persistente, dores musculares, ins?nia, irritabilidade, queda de desempenho, maior risco de infec??es, les?es, ansiedade e até burnout. No plano físico, a adolescência é uma fase de intenso crescimento, durante a qual os ossos e cartilagens ainda est?o em desenvolvimento. Isso os torna especialmente vulneráveis a les?es por uso excessivo, como fraturas por estresse, tendinites e problemas articulares. Com o passar do tempo, mesmo pequenas les?es repetitivas podem prejudicar uma carreira de sucesso no esporte no futuro. — O adolescente que tem uma tendinite, uma sobrecarga na canela ou na coluna, vai se recuperar porque ele tem uma condi??o física boa. Só que ele provavelmente n?o terá uma vida esportiva muito longa porque vai acabar convivendo com essas les?es muito mais tempo — diz Zogaib. — Quando a gente analisa os atletas mais longevos, o ponto crucial dessa longevidade é o número de les?es que ele teve durante a carreira. Aqueles atletas que se lesionaram mais, fatalmente s?o os que interrompem a carreira mais cedo. E n?o é só o fato de interromper a carreira mais cedo, mas também do desempenho, da performance n?o ser aquela que poderia ser. Há ainda preocupa??es sobre distúrbios como a vigorexia, nome dado para o transtorno dismórfico muscular, um problema psicológico que faz com que os pacientes se enxerguem fracos e sem músculos, quando s?o fortes e musculosos. Isso pode acontecer entre adolescentes após a puberdade e envolve riscos como o uso de substancias inapropriadas. Há ainda risco de anorexia atlética, caracterizada por comportamento compulsivo em rela??o ao exercício; RED-S, sigla para “déficit energético relativo no esporte", condi??o que afeta em especial mulheres e ocorre quando atletas n?o consomem calorias suficientes para sustentar suas demandas energéticas, levando a uma série de consequências negativas para a saúde e o desempenho como baixa disponibilidade de energia, disfun??o menstrual e baixa densidade mineral óssea; e até mesmo burnout devido à sobrecarga psicológica. Para evitar que qualquer uma dessas coisas aconte?a e que ao invés de fazer bem, o esporte prejudique a vida do adolescente, a recomenda??o é que o desenvolvimento esportivo seja muito bem planejado e construído com o médico, os pais, o treinador e o adolescente. — é realmente bem difícil o adolescente ultrapassar o limite de uma prática saudável de exercício físico. Geralmente, quando isso acontece, há estímulo de terceiros. Por isso é importante que todos estejam envolvidos — pontua Morato Filho. Em qualquer fase da vida, a prática de exercícios em nível de competi??o deve vir acompanhada de outros dois pilares que s?o sono e alimenta??o. Mas isso é ainda mais importante na adolescência, quando o corpo e o cérebro ainda est?o em forma??o. Estatísticas da OMS mostram que quatro em cada cinco adolescentes n?o praticam atividade física suficiente. Diante disso, apesar dos riscos associados ao excesso de treinamento, os especialistas s?o categóricos em dizer que o risco disso acontecer é baixo e que é preciso, cada vez mais, incentivar os adolescentes a fazer atividade física. Lembrando sempre que o exercício ideal é aquele que oferece saúde, bem-estar e prazer — n?o aquele que esgota corpo e mente. 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